Amigues,
(Segue uma pequena reflexão que tive com a Cla e o Tomás após
apresentação de Panidrom na PUC)
Apreciei muito e achei
esclarecedor o apontamento da Clarice.
" - Acho que são nove criaturas e um performer. "
Dormi sobre o assunto. Ora, a realidade não é um dado natural
ou um efeito do passado. Ela é teatral; fabricada. É o que o Tristão me fez ver
na última apresentação enquanto conduzíamos o público por ruas estreitas e
cheias de câmeras. É o que compreendo como “sociedade do espetáculo”. Diante
desse acontecimento, a criatura que não quer ser capturada “Tristão” tenta ir na
contramão dessa realidade, ele a rejeita, a quer desmascarar. Enquanto
contempla a parede parece descobrir seu verdadeiro nome:
- Ninguém.
Entende- se seu ceticismo? Impossível apreender o real como totalidade, pois não há
verdade na realidade, ela é uma fabricação histórica de vontades de poder. E por que
as placas? Por que essa obsessão por escrever a própria história acaba em
ruína? Talvez porque ao nos depararmos com uma ruína a primeira coisa que
fazemos é construir para ela uma história. E quem conta essa história?
O contar e o representar me parecem motes
interessantes para pensar o “performar” que a Clarice aponta, uma vez que: os
enunciados constituintes da realidade do espetáculo são estratégias de
dominação.
“A memória é uma ilha de edição”.
Essa dificuldade do Tristão em assumir seu papel de dentro da
cena, talvez venha da necessidade um de seus autores que já não quer encenar ou
contar mais nada, porque compreende que aquilo que se consegue representar ou
contar na realidade encenada também é estratégico e editado. O autor em questão
esteve nas ruas em junho e sentiu no corpo o papel do estado midiático. Sua
“tradução das massas” em jogos de linguagem, que sedentos de poder pela
unidade, se mostraram incapazes de lidar com a multidão*, transformando
indivíduos em personagens e acontecimentos em [espetáculo].
*Multiplicidade